Lacan
correu o risco da topologia desde o início. A partir de 1953, basta ver seus Escritos
em que ele relaciona a estrutura da fala ao
toro. Sem correr esse risco, ele não teria conseguido inventar nem o objeto a
n em o real borromeano. Ele também correu o risco da poesia. Desde 1933, ao
publicar “Hiatus irrationalis”, soneto diretamente inspirado por sua leitura da
tese que Koyré acabara de lhe dedicar, da mística de Jacob Böehme, e na qual
flui a torrente do gozo feminino.
Para que
serve a topologia borromeana? Serve para cingir o furo, o verdadeiro, seus
pontos de entrave e rangidos (portanto, de gozo). Esse verdadeiro furo da
estrutura é o que a poesia tenta não voltar a tapar. “A poesia não mais se
impõe, ela se expõe”, escreve Paul Celan. A psicanálise também.
Extrair
algumas consequências clínicas e estruturais dessa escrita do real borromeano
que Lacan inventou é o que tenta fazer este livro, que reúne um a seleção de
trabalhos e apresentações do autor nestes últimos dez anos.
Michel Bousseyroux
Excerto adaptado do Preâmbulo
***
Pref ácios de Albert Nguyên (edição francesa)
e Conrado Ramos (edição brasileira)